20 de dezembro de 2009

O PORTO E OS JUDEUS - 5. OS MARRANOS



As escadas da Esnoga (Sinagoga) e orgão de tubos no interior da igreja paroquial da Vitória. Fotos de Maria Beatriz Capitão, em 5 de Dezembro de 2009, durante a sessão de "Romper os Sapatos".

Ainda a propósito da presença judaica no Porto, e das conversas/reflexões que motivou a nossa última "peregrinação" do "Romper os Sapatos", que incidiu sobre o morro da Vitória, no Porto, local da antiga judiaria medieval da cidade, recebemos no nosso colega João Ferreira (a quem transmito um abraço de agradecimento), as seguintes notas:

Sabendo que em História as verdades são circunstanciais e que tudo é sempre questionável...
Na Galiza e no Alto Minho Interior, "desde tempos imemoriáveis"(1) e ainda vulgarmente até hoje, o animal porco sempre foi chamado de marrano ou de porco mesmo,
Aí, igualmente, desde tempos imemoriáveis e até hoje, marrano também foi e é utilizado depreciativamente designando sujo, imundo, sem o mínimo de higiene, proximamente indesejável,
O termo, também sempre foi e continua a ser usado nas zonas de influênca galaica (só celta?), numa perspectiva eticamente solidária com crianças e amigos, em termos de chamada-de-atenção para a higiene corporal e alimentar fudamental para o bem estar individual e comunitário e para evitar enfermidades.
Na galiza, só utilizam a palavra cerdo (para o porco) quando têm que falar castelhano, especialmente com os migrantes ou turistas nacionais ou estrangeiros (e a custo, porque a palavra para eles sempre foi marrano).
A palavra cerdo foi-lhes imposta ao fim das inúmeras tentativas de unificação linguística de Espanha,
Cochino (francesismo), só muito recentemente usado, tem os mesmos significados de insulto e para denominar o animal pequeno.
Provavelmente, os tais "judeus perdidos" e independentemente de serem insultados de marranos pelas suas práticas sócio/culturais e religiosas diferentes dos seguidores católicos então dominantes, poderiam eles mesmos se auto-intitularem de marranos, pelas diferenças de comportamentos higiénicos (bons ou menos bons) que verificavam existir relativamente aos não judeus.
De recordar que os muçulmanos, de que na época, e sempre, ficou presença no norte de Portugal, faziam e fazem as suas várias orações diárias, virados para Meca, apenas só após estarem limpos, seja pelo menos com as mãos e a cara passadas por água.
Aí os judeus poderiam sentir uma diferença, por as suas práticas diárias não serem tão exigentes.

(1) Fonte: Contactos/entrevista com idosos de idade bastante avançada, adultos conhecedores da História Galaica, jovens, jovens estudantes e muito jovens de várias povoações da Galiza e do Alto Minho. Alguns contactos confirmatórios renovados após a 2ª etapa de "romper os sapatos".

João Ferrreira


Ainda sobre este tema não posso deixar de remeter os colegas para um interessante e pequeno estudo de uma investigadora brasileira. Nele ela aborda também a origem etimológica de "marranos", com base nos "porcos" mas também, curiosamente, na própria língua hebraica. Finaliza com surpreendentes explicações para a origem de expressões como "Ficar a ver navios" ou "pensar na morte da bezerra"... Podem consultar em http://www.filologia.org.br/viiifelin/39.htm

14 de dezembro de 2009

O PORTO E OS JUDEUS - 4. OS MARRANOS, O SÉCULO XX E A SINAGOGA DO PORTO



Durante o nosso último percurso, e enquanto atravessavamos a antiga judiaria do Porto,abordamos também, ainda que de um modo sucinto, a "resistência" de algumas famílias judaicas que, apesar de oficialmente convertidas ao cristianismo, continuaram secreta e clandestinamente, até ao século XX, a manter os seus cultos judaicos. Estas famílias e comunidades ficariam conhecidas como "marranos". A sua (re)descoberta para a comunidade judaica internacional (o "resgate" dos marranos) dar-se-ia apenas no início do século XX graças à acção do Capitão Barros Basto, destacado militar português na 1ª Guerra Mundial, a quem também se ficou a dever a construção no Porto, na Rua de Guerra Junqueiro, da Sinagoga Kadoorie - a maior da Península Ibérica(consultar http://pt.wikipedia.org/wiki/Sinagoga_Kadoorie). A instauração do Estado Novo e as pressões da Igreja Católica acabaram por condicionar fortemente a acção de Barros Basto que viria mesmo a ser demitido do Exército, perdendo todos os títulos e condecorações com que havia sido agraciado na sequência da sua destacada participação no conflito mundial. Decorre actualmente uma campanha internacional visando a sua reabilitação (consultar http://www.petitiononline.com/benrosh/petition.html)

6 de dezembro de 2009

O PORTO E OS JUDEUS -3. EXPULSÃO E RESISTÊNCIA

(O (desaparecido) monumento à memória da presença judaica no morro da Vitória. Foto de Sérgio Jacques, de 2007, in http://obradouro.blogspot.com)

No final do século XV, a 5 de Dezembro de 1496, o rei D. Manuel I decreta a conversão obrigatória dos judeus (que passarão a ser designados por cristãos-novos) ou a sua expulsão do reino. A comunidade judaica do Porto, que apenas quatro anos antes acolhera pelo menos mais trinta famílias refugiadas das perseguições em Espanha, não foi excepção. Desaparecia assim a judiaria que, durante muito tempo, abrigou os médicos e físicos judeus, quase os únicos a que a população da cidade podia recorrer. Mas também mercadores, mesteirais, ourives e muitos homens cultos. E desaparecia também o lugar de culto judaico: a sinagoga.
Mais de um século depois, no terreno daquele antigo espaço religioso hebraico, foi edificado um mosteiro beneditino que, na padieira da sua portaria, ostentava, em latim, a seguinte inscrição: "Aquela que foi sede das trevas é o palácio do sol. Expulsas as trevas, o sol bento triunfa". Curiosamente é este triunfo, esta "vitória", do sol bento (o cristianismo) sobre a sede das trevas (o judaísmo, a antiga judiaria e a sua sinagoga) que estará na origem da designação deste mosteiro (S. Bento da Vitória) e do rebaptizar de toda este morro que, assim, perderá paulatinamente o seu antigo topónimo (Olival) em deterimento de Vitória. (texto: Joel Cleto, in http://obradouro.blogspot.com )

O PORTO E OS JUDEUS - 2. A JUDIARIA DO OLIVAL



O grupo "Romper os Sapatos" na antiga judiaria do Porto (fotos Maria Beatriz Capitão)

A presença de judeus no Porto está documentada desde épocas medievais muito recuadas. E, até ao século XIV, o viajante ou peregrino que penetrasse no burgo facilmente contactaria com a comunidade judaica que, embora concentrada em torno de duas ou três artérias, se localizava dentro da velha muralha românica da cidade. Sabe-se, de resto, documentalmente, que haveria mesmo uma sinagoga na actual Rua de Santana, bem perto de uma das velhas portas de entrada na povoação.
Contudo, e não obstante a aparente boa vizinhança que terá caracterizado durante alguns séculos as relações entre a maioria cristã e a comunidade hebraica da cidade, a intolerância religiosa e xenófoba acabariam por se revelar no século XIV. Trata-se de um período de grandes crises políticas, militares e sanitárias, e os judeus foram, então, como em tantas outras épocas de crise anteriores e posteriores, diabolizados, usados como "bode expiatóro" e apontados muitas vezes como os causadores de todos os males.
Este fenómeno que se alastrou a todo o continente europeu, em larga medida impulsionado pelo Papa que se encontrava na primeira linha na denúncia, combate e perseguição aos hereges judeus, chegou também a Portugal e ao Porto e, por volta de 1386, no reinado de D. João I, os judeus foram proíbidos de habitar no velho centro da cidade. A solução, por "mandado e constrangimento" do próprio monarca, foi a sua transferência para o morro fronteiro: o monte do Olival. Com esta política segregacionista juntava-se, num único bairro, os diversos núcleos judaicos, já que além do das Aldas/Santana havia também comunidades isrealitas em S. João Novo e em Monchique, no sítio conhecido por Monte dos Judeus e onde havia também uma sinagoga.
Apesar de se situar dentro das novas muralhas da cidade, erguidas poucos anos antes, a "judiaria nova do Olival" foi certamente uma solução a contra gosto dos judeus. Espaço claramente secundário, ficava também afastado do Porto ribeirinho, comercial e mais dinâmico. Mas, sem hipóteses de se oporem à vontade do rei, do bispo e dos poderosos, aí se fixaram. Aí nasceu e cresceu a judiaria, e no seu topo foi edificada a Sinagoga Nova. Até ao fim do século XV. Até uma nova e ainda mais profunda vaga de intolerância e perseguição religiosa. (texto: Joel Cleto, in http://obradouro.blogspot.com )

O PORTO E OS JUDEUS -1. AS ESCADAS DA ESNOGA



O grupo do "Romper os Sapatos" nas escadas da Esnoga (fotos Maria Beatriz Capitão)

No início da Rua de Belomonte, ainda junto ao Largo de S. Domingos, nasce a extensa escadaria da Vitória. Subida penosa é, contudo e de um modo incontornável, uma das mais rápidas e directas ligações entre a parte baixa e alta do morro da Vitória. É também a partir destas escadas que se pode contemplar uma das mais belas panorâmicas sobre o Porto medieval. Mas este é, igualmente, um dos espaços onde a presença judaica na cidade perdurou até aos nossos dias. Com efeito a toponímia salvaguardou essa Memória histórica e esse Património étnico de gentes, religiões e de culturas de que também é feita uma cidade. E o Porto foi feito de igual modo, durante muitos séculos, de uma extensa e importante comunidade de judeus que, desde o século XIV, se viu proíbida de habitar no morro da Sé e, por tal motivo, foi transferida para o morro do Olival. Nascia assim a judiaria do Porto, no alto da qual se ergueu uma nova sinagoga. No final do século XV os judeus foram definitivamente expulsos da cidade e do país. Mas, sintomaticamente, as escadas que, através da judiaria, conduziam à sinagoga, as rebaptizadas Escadas da Vitória, são também, ainda hoje, designadas por Escadas da "Esnoga".(texto: Joel Cleto, in http://obradouro.blogspot.com )

5 de dezembro de 2009

2ª ETAPA: DA SÉ AO LARGO DOS FERRADORES

O grupo junto ao monumento ao Soldado Desconhecido da Grande Guerra, na Praça de Carlos Alberto.

Sábado, 5 de Dezembro de 2009 - E, debaixo de chuva, cumpriu-se a segunda etapa desta "peregrinação" para Compostela. O início foi na Sé, junto à "muralha suévica" e à estátua a Vímara Peres - pretextos para se abordar as origens cristãs e católicas da cidade do Porto, com invasões e conflitos com mouros à mistura. Motivos para falar do Porto suévico, da conversão dos suevos e da cidade ao catolicismo durante o reinado de Teodomiro (com a lenda da igreja de "Cedo Feita" pelo meio), à invasão muçulmana da Penísula em 711 e à tomada do Porto por Abdazil em 716, à "reconquista" por Afonso I das Astúrias por volta de 750, às posteriores instabilidades e à presúria de Vímara Peres em 868, juntamente com os guerreiros gascões (entre os quais o Bispo que trouxe a Imagem de Nossa Senhora de Vandôme, "aportuguesada" por Vandoma - a actual padroeira da cidade do Porto). Incontornável foi, também, abordar a tomada da cidade em 997 pelo famoso guerreiro muçulmano Almanzor, antes da definitiva passagem da cidade para o domínio cristão.
Pacificada a região, integrada no condado portucalense, o Porto cresce significativamente a partir do século XII, rompendo a velha muralha alti-medieval e estendendo-se para o fronteiro morro do Olival. Foi nessa direcção que prosseguimos, depois de correr a Rua Escura e observar a Rua da Ponte Nova sobre o rio d vila. Já na margem direita deste, no morro do Olival, atravessamos o largo de S. Domingos (onde se recordou a existência no local de um antigo mosteiro medieval dominicano)e iniciamos a subida da encosta através das Escadas da Esnoga (sinagoga)abordando obviamente a judiaria que aqui se desenvolveu a partir do reinado de D. João I, bem assim como a (longa) história dos judeus na cidade. Passagem pela antiga bateria liberal da Vitória, durante o Cerco do Porto, e o impacto que este teve na igreja da Vitória (visita ao interior do templo, onde se observou a imagem da padroeira da autoria de Soares dos Reis e onde se fez diversas considerações à história e "estórias" da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, a propósito de uma imagem aí existente da autoria de Guilherme Thedim, o famoso santeiro de Santa Cruz do Bispo/Matosinhos). Passagem pelo mosteiro de S. Bento construído sobre as ruínas da antiga sinagoga judaica e que, marcando a "vitória" dos cristãos sobre os judeus, motivou o nome pelo qual esta elevação passou a ficar conhecida (morro da Vitória em vez de morro do Olival). "Saída" da cidade pelo local da antiga porta do Olival e observação de alguns vestígios da desaparecida muralha fernandina ainda hoje observáveis no interior do actual Café do Olival. Visita ao jardim da Cordoaria e explicação da origem desta designação, ligada à produção de cordas que aqui se praticou a partir dos finais da Idade Média, em articulação com os estaleiros navais que se desenvolviam a algumas centenas de metros de distância nas praias fluviais de Miragaia. Referência ao adro dos enforcados onde, no século XVIII, se construiu a igreja e a torre da Irmandade dos Clérigos Pobres, vulgo "dos Clérigos"). A peregrinação prosseguiu pela antiga Praça do Pão (depois designada por Praça dos Voluntários da Rainha e, mais recentemente, por Praça Gomes Teixeira - mas que toda a gente conhece popularmente por "Praça dos Leões"), de onde se observou e comentou a igreja e antigo convento dos Carmelitas Descalços (desde 1910 quartel da Guarda Nacional Republicana)e a igreja e hospital da Ordem Terceira do Carmo. A caminhada terminou no antigo largo dos Ferradores (actual Praça Carlos Alberto)de onde partiam as principais estradas que ligavam o Porto ao Norte do país. (foto Joel Cleto)

26 de novembro de 2009

ÚLTIMA HORA: ENTRE LENÇÓIS!

Na escarpa da Pena Ventosa...(foto Maria Beatriz Capitão)

Hesitei e adiei o mais que pude esta mensagem. No entanto não tenho outra hipótese. Desde segunda feira que me encontro doente. Fui apanhado pela gripe. Não sei se pela A ou pela "outra", mas eles agora já não fazem os testes: mandam-nos para a cama e para casa sete dias! Pensei no entanto que - como me era habitual - três ou quatro seriam o suficiente. Constato agora que não. Só muito dificilmente estarei em boas condições no sábado de manhã. Ainda por cima as previsões meteorológicas são de alguma chuva e descida de temperatura.
Não me resta por isso outra alternativa que não seja comunicar-vos o meu impedimento e avançar desde já com outra data alternativa que proponho seja exactamente uma semana depois, isto é: 5 de Dezembro, com ponto de encontro à mesma hora, no mesmo local.
Entretanto desde já me comprometo que, se houver um número significativo de pessoas que não possa participar no dia 5, poderei repetir este mesmo percurso em data a combinarmos posteriormente.
Peço uma vez mais a vossa desculpa e pedia também a todos que, dentro dos vossos contactos, passassem esta informação. Até porque o grupo tem 65 "pré-inscritos" mas eu só possuo o mail de pouco mais de 40. E é claro que o nosso blogue continuará a dar conta desta situação e da sua evolução.

Obrigado,
Joel

8 de novembro de 2009

DA RIBEIRA À SÉ - O "CUBO"

A romper os sapatos na Praça da Ribeira (fotos Maria Beatriz Capitão)

A Praça da Ribeira é dominada, desde 1976, por uma escultura - o "Cubo" - de um dos mais conceituados escultores portugueses do último quartel do século XX: José Rodrigues. Esta obra tornou-se de tal forma emblemática que, para muita gente, nomeadamente para as novas gerações, o local foi rebaptizado com o nome de "Praça do Cubo".
Espaço desde sempre de referência na cidade, a Ribeira e a sua Praça perderam, nas últimas décadas, muito do seu tradicional bulício mercantil, ainda magistralmente documentado por Manoel de Oliveira, em 1931, em "Douro - Faina Fluvial". Mas, por outro lado, ganharam imensa vida com o Turismo e a animação nocturna em concorridos pubs. E o "cubo" assume-se muitas vezes, neste contexto, como um ponto de encontro nestas deambulações e "peregrinações" turísticas ou nocturnas pela cidade.
O "cubo" assenta sobre uma fonte que, na sua edificação, reaproveitou várias pedras recuperadas no local. Curiosamente uma intervenção arqueológica aqui realizada revelou a preexistência, neste mesmo sítio, de um anterior tanque ou fonte. Este terá sido, portanto, um local onde provavelmente muitos viajantes, rompendo os sapatos, ter-se-ão refrescado antes de iniciar a subida da cidade, em direcção à sé catedral e/ou das portas de saída para Norte (texto Joel Cleto).

6 de novembro de 2009

UM APELO

Galinheiro improvisado no Largo da Penaventosa (foto de Manuela Silva).

Da nossa colega Olga Barbosa recebi o seguinte apelo (é mais uma sugestão): "que tal colocarmos um pouco de literatura nas sessões de caminhada com leituras prévias para quem gostar e puder?! que acha?! mande daí o desafio aos colegas de português para que sugiram obras nas quais apareçam os cenários a visitar, por exemplo."
E aqui fica, pois, registada a sugestão. Quem quiser efectivamente sugerir obras literárias a propósito dos trajectos tem, no topo da coluna do lado direito, o trajecto da nossa próxima caminhada.

5 de novembro de 2009

DA RIBEIRA À SÉ - 3

São 52 os fabulosos registos fotográficos do Renato Cerqueira a propósito da nossa caminhada no passado dia 31 de Outubro. Nas imagens de cima podemos observar alguns instantes do momento da despedida do grupo na Sé do Porto, um apontamento "humano" na Rua dos Mercadores, uma gaivota sobre o casario do Centro Histórico, um aspecto geral do interior da igreja "dos Grilos", e a introdução aos Caminhos de Santiago junto ao Postigo do Carvão. Mas o melhor mesmo é ver as fotos todas no slideshow em http://renatocerqueira.zenfolio.com/romperossapatos/slideshow

3 de novembro de 2009

DA RIBEIRA À SÉ - 2

Rua dos Mercadores. Início da subida pelo grupo "Romper os Sapatos" (foto Marta Bessa).
Vencido o rio, atravessada a muralha da cidade, e depois de se perder, e de se encontrar, no meio da azáfama e do colorido ribeirinho, eis que o peregrino tem que retomar o seu caminho. E, a partir da beira-rio, há que subir. Seja em direcção à catedral e ao burgo episcopal, no alto do morro da Pena Ventosa, seja, de um modo mais apressado e directo, em direcção às portas que se abriam para Norte. Mas não há engano possível: é subir, subir sempre, vencer a encosta ao longo da qual, como numa cascat"a, a cidade se foi encavalitando ao longo dos séculos.O eixo vital nessa ascensão, da Ribeira à Sé, foi, durante muitas centúrias, o definido pelas estreitas e antiquíssimas ruas dos Mercadores, Bainharia, Escura e de Santana. (...) Este antigo eixo, de circulação fundamental para o Porto mediévico, tem início junto à Praça da Ribeira, na Rua dos Mercadores. As mais antigas referências documentais a esta artéria datam de 1309 e é, então, designada por "rua per hir vam a ribeira", mas, em 1374, é já referenciada como rua dos Mercadores, designação que, obviamente, se prende com o facto de, dada a proximidade ao rio e à vida mercantil ribeirinha, ter sido aí que prioritariamente se estabeleceram as residências e estabelecimentos dos mercadores do burgo.
Este mesmo documento, de 1374, reveste-se de grande importância para a história da cidade já que se trata da carta do rei D. Fernando pela qual o monarca proibiu, aos nobres e prelados do reino, a permanência no Porto por mais de três dias. E, como que atestando que estamos perante aquela que, durante séculos, foi uma das principais ruas do burgo - se não a principal e mais rica - este mesmo documento reforça a importância desta artéria ao deixar claramente expresso que é negado aos nobres, prelados e outros poderosos do reino exigirem o seu direito de aposentadoria nas estalagens e mosteiros da cidade, bem assim como na... rua dos Mercadores. Certamente porque aqui se encontrariam as mais belas e ricas casas da cidade, logo, as mais apetecíveis e cobiçadas pelos nobres medievais para exercer a exigência desse seu direito.
(...) Com a abertura das "amplas" ruas iluministas que, na segunda metade do século XVIII e no XIX, passaram a ligar a parte "alta" da cidade à Ribeira, como é o caso da rua de S. João, que lhe corre paralela, a Rua dos Mercadores perdeu quase toda a sua importância como eixo de circulação fundamental da cidade e a decadência e ruína muito rapidamente tomaram conta desta antiga "estrada". Hoje é, indiscutivelmente, uma das mais apagadas, desertas, desabitadas, arruinadas e tristes ruas do Centro Histórico do Porto. Mas é por aí que, na peugada do peregrino medieval, se deve prosseguir." (Joel Cleto in http://obradouro.blogspot.com/)

1 de novembro de 2009

DA RIBEIRA À SÉ - 1




31 de Outubro de 2009. Primeira etapa. Da Praça da Ribeira à Sé do Porto. Introdução. A lenda, devoção e a origem dos Caminhos de Santiago, junto ao Postigo do Carvão. Abordagem à muralha fernandina e às anteriores muralhas que cercaram o morro da Pena Ventosa. A Praça da Ribeira (da sua abertura, pelos Almadas, ao "cubo" do José Rodrigues). A Rua dos Mercadores - da mais importante da cidade (onde os nobres não podiam exercer o seu direito de aposentadoria) a uma das mais esquecidas na actualidade. A Rua da Bainharia, fora dos muros da urbe alti-medieval, local de fixação de ferreiros e de oficinas de metalurgia. A rua e a porta de Sant'Anna. O largo do colégio, a igreja de S. Lourenço (dita dos "Grilos") e a chegada dos jesuítas à cidade. A resistência dos portuenses perante a possibilidade da fixação na cidade de filhos de nobre que frequentariam o colégio dos jesuítas. Posterior passagem da posse desta igreja dos jesuítas para os frades Agostinhos Descalços (os "Grilos") e origem do nome pelo qual o templo passou a ser conhecido. Visita ao interior da igreja e à sepultura de D. Luís e Távora, balio do mosteiro hospitalário de Leça do Balio que pagou a construção deste imóvel. Subida, pelas ruas das Aldas e da Penaventosa, ao topo do morro da Sé. Considerações sobre o terreiro e o pelourinho do Porto ("invenções" do espírito nacionalista das décadas de '30 e '40 do século XX). As origens lendárias da catedral do Porto - S. Basileu, um dos setes discípulos de Santiago, teria sido o seu fundador e o primeiro bispo da cidade. Visita ao interior da Sé do Porto. D. Afonso Henriques e o discurso "oficial" do românico como uma das estratégias políticas para o reconhecmento da independência do condado portucalense. As relíquias de S. Pantaleão, a imagem de Nossa Senhora da Vandoma e os diversos santos padroeiros que o Porto conheceu . (fotos Joel Cleto)

COMUNICADO 2/2009

Caros/as Amigos/as
Pois é verdade! Cá estamos de volta com o "Romper os Sapatos". Não irei perder tempo com a apresentação do ateliê uma vez que presumo que já teve acesso à nota de divulgação que vem sendo expedida pelo Centro de Formação de Matosinhos (ver http://www.cfaematosinhos.eu/Folheto%20Romper%20os%20sapatos_2009_v3.pdf).
Nestes últimos dias, e desde que a nota começou a ser divulgada, recebi já várias inscrições e muitas perguntas. Assim, e independentemente de voltar ao contacto de todos antes da nossa primeira caminhada, passo a esclarecer as dúvidas:
1. Quanto ao limite de inscrições por enquanto não há probemas. De qualquer modo não gostaria de ultrapassar as 40, já que mais do que esse número pode começar a ser impraticável;
2. A "inscrição" faz-se, tão só, manifestando o interesse em participar através de mail enviado para este meu endereço electrónico;
3. Preciso contudo que me indiquem "direitinho" o nome da(s) pessoa(s) a inscrever (não basta dizer "sou eu, fulano de tal, mais dois colegas ou familiares") já que, como indiquei no folheto de divulgação, estou a tentar "negociar" com o Centro de Estudos Jacobeus do Porto a emissão de um "passaporte" personalizado de peregrino para cada um dos participantes, por forma a, no final das nossas caminhadas, obtermos a "Compostela" (certificado de peregrinação passado pelas Autoridades de Santiago). Preciso por isso mesmo dos nomes correctos e não apenas o nº de pessoas;
4. Na sequência das regras e regulamentos do Centro de Formação este ateliê está aberto, com efeito, aos familiares dos professores. Por isso "as caras-metade", filhos, pais, sobrinhos, irmãos, primos e enteados são benvindos :). Inscrições de pessoas que não tenham qualquer relação directa, familiar ou profissional com professores poderão ser igualmente aceites.
5. Por crianças (peço desculpa aos adolescentes!) entende-se menores de 15 anos inclusivé. Até essa idade estão isentos de pagamento;
6. O pagamento de cada sessão (5€) faz-se apenas no próprio dia do passeio, logo no início deste. De preferência no cafezinho (teremos que descobrir sempre um) de encontro;
7. O encontro e café matinal inspirador terá lugar às 9.30 em local que terei sempre o cuidado de indicar no final da caminhada anterior e/ou através de email;
8. A primeira "etapa" da nossa peregrinação terá lugar no sábado 31 de Outubro (procuraremos que se realize sempre no último sábado de cada mês) e levar-nos-á das margens do Douro, na Ribeira, até à Sé do Porto, através do Porto medieval. O local de encontro será o café/esplanada junto ao "cubo" da Ribeira;
9. O calendário do ateliê apresentado no folheto de divulgação é apenas uma proposta. Está sujeito a algumas adaptações e até a alterações decorrentes de sugestões/propostas dos próprios frequentadores do ateliê.
Bom... e por hoje é tudo. Ameaço voltar.
Bjs e abraços
Joel

COMUNICADO 1/2009

Romper os Sapatos
E s t a m o s d e v o l t a !
O desafio é o mesmo: partir à descoberta, uma manhã de sábado por mês, calcorreando a História, a Memória e o Património da nossa região, por ruas, vielas, praças, veredas, caminhos rurais e perscrutando o interior de alguns monumentos.
E porque 2010 vai ser ano Jacobeu - o último nos próximos onze anos - as sessões vão centrar-se na (re)descoberta dos antigos caminhos para Santiago de Compostela na nossa região. Ao longo dos próximos meses, iremos "romper os sapatos" nos seguintes percursos (sujeitos a pequenas alterações):
- Outubro - Da Praça da Ribeira à Sé do Porto
- Novembro - Da Sé do Porto à Praça dos Ferradores (incluindo a Catedral, Judiaria, Cordoaria e Torre dos Clérigos).
- Dezembro - De Carlos Alberto à Capela do Olho Vivo (incluindo igrejas dos Carmelitas, do Carmo, da Lapa e capela do Olho Vivo e a subida a um dos mais fabulosos e desconhecidos miradouros da cidade).
- Janeiro - Da Lapa a Paranhos (com descida ao subterrâneo das nascentes da Arca d'Água).
- Fevereiro - De Paranhos ao Mosteiro de Leça do Balio (com passagem pela capela de Stº Antoninho do Telheiro, Casa-Museu Abel Salazar, Ponte da Pedra e visita ao mosteiro).
- Março - De Carlos Alberto a Requezende (com passagem por Cedofeita, Ramada Alta, Carvalhido e Prelada).
- Abril - De Requezende a Santiago de Custóias (inclui visita à Quinta da Prelada e à igreja de Custóias).
- Maio - De Custóias ao Mosteiro de Moreira da Maia (com passagem pela Ponte de D. Goimil e visita ao mosteiro).
- Junho - Um fim-de-semana de caminhada em terras espanholas com chegada a Santiago de Compostela. Pernoitaremos num albergue de peregrinos.
A todos os participantes, e com o apoio do Centro de Estudos Jacobeus - Porto, será entregue um "passaporte de peregrino" que iremos carimbando ao longo do percurso, por forma a atestar a nossa "peregrinação" e,assim, tentar conseguir obter a "Compostela": documento / certificado que as autoridades de Santiago entregam a quem, justificadamente (através do referido passaporte), realize a peregrinação (é obrigatório perfazer um determinado número de quilómetros - coisa que procuraremos cumprir com o somatório das nossas sucessivas "etapas").
O guia continua a ser o Joel Cleto, o promotor é o CFAE_Matosinhos, o sábado é o último de cada mês (sujeito a pequenos acertos) e o custo é de 5€ /pessoa / sessão (cafezinhos e entradas pagas emmonumentos - raras - não incluídos). As crianças não pagam.
Dinamizador: Joel Cleto - http://joelcleto.no.sapo.pt
Inscrições: joel.cleto@gmail.com
Não se esqueçam: vestuário confortável e calçado apropriado para caminhadas. Uma garrafinha de água é sempre útil e uma pequena mochila onde deverão guardar a garrafinha, um impermeável e a máquina fotográfica.

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