3 de novembro de 2009

DA RIBEIRA À SÉ - 2

Rua dos Mercadores. Início da subida pelo grupo "Romper os Sapatos" (foto Marta Bessa).
Vencido o rio, atravessada a muralha da cidade, e depois de se perder, e de se encontrar, no meio da azáfama e do colorido ribeirinho, eis que o peregrino tem que retomar o seu caminho. E, a partir da beira-rio, há que subir. Seja em direcção à catedral e ao burgo episcopal, no alto do morro da Pena Ventosa, seja, de um modo mais apressado e directo, em direcção às portas que se abriam para Norte. Mas não há engano possível: é subir, subir sempre, vencer a encosta ao longo da qual, como numa cascat"a, a cidade se foi encavalitando ao longo dos séculos.O eixo vital nessa ascensão, da Ribeira à Sé, foi, durante muitas centúrias, o definido pelas estreitas e antiquíssimas ruas dos Mercadores, Bainharia, Escura e de Santana. (...) Este antigo eixo, de circulação fundamental para o Porto mediévico, tem início junto à Praça da Ribeira, na Rua dos Mercadores. As mais antigas referências documentais a esta artéria datam de 1309 e é, então, designada por "rua per hir vam a ribeira", mas, em 1374, é já referenciada como rua dos Mercadores, designação que, obviamente, se prende com o facto de, dada a proximidade ao rio e à vida mercantil ribeirinha, ter sido aí que prioritariamente se estabeleceram as residências e estabelecimentos dos mercadores do burgo.
Este mesmo documento, de 1374, reveste-se de grande importância para a história da cidade já que se trata da carta do rei D. Fernando pela qual o monarca proibiu, aos nobres e prelados do reino, a permanência no Porto por mais de três dias. E, como que atestando que estamos perante aquela que, durante séculos, foi uma das principais ruas do burgo - se não a principal e mais rica - este mesmo documento reforça a importância desta artéria ao deixar claramente expresso que é negado aos nobres, prelados e outros poderosos do reino exigirem o seu direito de aposentadoria nas estalagens e mosteiros da cidade, bem assim como na... rua dos Mercadores. Certamente porque aqui se encontrariam as mais belas e ricas casas da cidade, logo, as mais apetecíveis e cobiçadas pelos nobres medievais para exercer a exigência desse seu direito.
(...) Com a abertura das "amplas" ruas iluministas que, na segunda metade do século XVIII e no XIX, passaram a ligar a parte "alta" da cidade à Ribeira, como é o caso da rua de S. João, que lhe corre paralela, a Rua dos Mercadores perdeu quase toda a sua importância como eixo de circulação fundamental da cidade e a decadência e ruína muito rapidamente tomaram conta desta antiga "estrada". Hoje é, indiscutivelmente, uma das mais apagadas, desertas, desabitadas, arruinadas e tristes ruas do Centro Histórico do Porto. Mas é por aí que, na peugada do peregrino medieval, se deve prosseguir." (Joel Cleto in http://obradouro.blogspot.com/)

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